Uma solidão

Às vezes eu me sinto dentro de um buraco.

Não é um buraco escuro nem triste. É só… um lugar onde eu já me acostumei a estar.

Aqui é silencioso, previsível, e por mais que eu queira sair, eu também quero ficar.

Porque eu já sei o que esperar daqui de dentro.

A maternidade me engoliu de um jeito que eu não sei mais separar o que é eu e o que é ser mãe.

Tudo o que eu faço — ou deixo de fazer — passa por esse filtro.

Eu não trabalho como antes, não tenho tempo como antes, não vivo como antes.

E mesmo quando tento fazer algo pra mim, como lavar o cabelo, fazer um bolo, escrever no blog… ainda é como se tudo tivesse o mesmo fundo de maternidade.

Minhas amigas têm suas vidas.

E eu? Eu fico aqui, no meio, querendo conversar, mas sem saber sobre o quê.

Porque eu não quero falar sobre rotina, sono, alimentação.

Eu queria falar de cabelo, de roupa, de perfume, de viagem, de nada importante.

Eu queria falar sem ter que falar sobre ser mãe.

Meu marido não é de conversar. E por mais que ele esteja aqui, eu continuo me sentindo sozinha.

Não é a falta de companhia física — é a falta de presença nas palavras.

Eu queria ter uma amiga pra vir aqui em casa num sábado à noite, comer algo simples, rir de qualquer coisa.

Eu poderia chamar. Eu sei que poderia.

Mas não chamo.

Talvez por preguiça, talvez por medo de não saber mais como estar com alguém.

Às vezes penso que já me acostumei a esse silêncio.

Que é mais fácil ficar nele do que tentar sair e me sentir deslocada.

Mas ao mesmo tempo, tem uma parte de mim que sente falta de vida.

De sentar com alguém e conversar. Só isso.

Conversar sobre nada e se sentir um pouco menos sozinha por causa disso.

E enquanto eu escrevo, minha filha está brincando ao meu lado, sozinha. Ela também deve sentir a solidão de ter uma mãe que tá ali focada no celular. Isso pesa.